Comuniarte

Projeto Ação Comuniarte: Saberes e Cultura Local / Parceria Internacional - MAC/UFF/Museu Andy Warhol e Universidade de Pittsburgh 2008

Equipe do Comuniarte
Unindo esforços para a inauguração do Maquinho em 2008, uma das experiências marcantes com o Programa Arte Ação Ambiental e o Morro do Palácio foi o projeto que ficou conhecido por uma nova geração de jovens da comunidade como Comuniarte (2008). Sua concepção resgatava a ideia original do Projeto Arte Ação Ambiental (1999), a de criar uma rede de parcerias, transdisciplinares e intersetoriais.

Desta forma, a parceria com a Universidade Federal Fluminense propiciou a participação especial de professores de diferentes departamentos, tais como: Prof. Luiz Hubner, Medicina e Programa Médicos de Família; Profa. Dra. Marli Cigagna, do Instituto de Geociência; Profa. Dra. Ceila Martins e Profa. Dra. Sonia Monnerat, das Letras – especialmente da Linguística (aquisição de linguagem e memórias de afetos); Prof. Dr. Paulo Carrano (Educação e Pedagogia) e seus respectivos estudantes. Como parceria internacional, em 2008, foi também reativada a importante colaboração com o Museu Andy Warhol (iniciada em 2000), através da educadora Jéssica Gogan. Este programa intenso de atividades ao longo de 8 meses somente foi possível graças ao patrocínio da Oi Futuro.

Trabalho da Oficina de Marcos Cardoso
É fundamental registrar a participação de artistas residentes, que tinham interesse e empatia com o deslocamento de suas práticas para o campo ampliado e indeterminado de agenciamentos socioculturais. Foi muito especial a colaboração entre os artistas e educadores do MAC da Divisão de Arte Educação, Eduardo Machado, Elielton Queiroz e Hugo Richards, e o coletivo – RUST (Radical Urban Silkscreening Team, de Pitttsburgh), na Oficina de Serigrafia na comunidade. Marcos Cardoso trouxe seus processos e práticas para uma oficina de criação coletiva, o que culminou com a produção de um grande painel costurado a partir de materiais reciclados. A colaboração da Universidade Carnegie Mellon, de Pittsburgh, que disponibilizou o Projeto GigaPAN (fotos panorâmicas), utilizado pelos jovens do projeto na documentação e registros de sua comunidade. Vistas de 180º foram tiradas do Campo de Futebol, do Maquinho e de outros pontos do Morro do Palácio, sendo parte da mostra inaugural “Arte Ação e Afetos”. O artista, coreógrafo e professor da UFF, Luiz Mendonça, deixou sua contribuição junto aos jovens como processos de descobertas do corpo, de vivências e explorações integradas entre dança, movimento e afeto.


Experiências Artísticas no Projeto: Ação Comuniarte
Guilherme Vergara

O projeto Comuniarte promoveu a integração entre estudantes da UFF com um grupo de jovens de 17 anos da comunidade, matriculados no segundo grau, introduzindo um currículo transdisciplinar de experiências que unia arte, geografia, literatura, pedagogia e saúde como instrumentos de redescoberta das realidades invisíveis que co-habitam os becos, o campo de futebol, as vendas e as frágeis passagens entre a esfera pública e privada nas favelas. Ao mesmo tempo, foram apresentadas algumas práticas artísticas que envolvem os registros de memória, lugar e pessoas, tomando como referência as Cápsulas do Tempo e Testes de Filmagem de Andy Warhol. O conceito museu comunitário como “relicário” foi, ainda, apresentado como instrumento de construção social de memórias compartilhadas, fazendo também uma ponte com a prática das “apropriações” tão recorrente na produção dos discursos artísticos contemporâneos.

O trabalho desenvolveu-se através de explorações dos jovens em pesquisas etnográficas, documentação escrita, coleta de objetos simbólicos, narrativas orais, documentados em áudio, vídeo e fotografia. Os objetos e memórias trazidos para as Cápsulas do Tempo ampliaram a consciência do sentido de pertencimento e agenciamento de novos valores e respeito ao estar juntos como essência do conceito de comunidade.

Comerciante Roberto
As práticas do artista Andy Warhol foram, também, levadas para a comunidade, assim como as dos geógrafos, dos médicos de família e das apropriações, mapeamentos e proposições coletivas da arte contemporânea – programas ambientais e agenciamentos sociais dos saberes locais. Os jovens assumiram a liderança e a iniciativa de explorarem seus próprios mapas da vida, como pesquisadores etnográficos, para a reinvenção, a ressignificação de cada lugar comum ou, até então, invisível ou desapercebido. As práticas de coletar, documentar, registrar e entrevistar foram apresentadas como instrumentos de exploração da vida e memórias da comunidade, sem deixar de ser um processo pedagógico voltado ao aprendizado existencial e à cidadania. O despertar de vínculos sociais para a consciência e expressão de si mesmo, como parte de uma experiência compartilhada de descobertas do outro e da comunidade, constituíram os fundamentos de um território de processos de conscientização, pertencimento e agenciamento, formando jovens como agentes de produção de novas subjetividades, produtores de linguagens como exercício do ser com o mundo.

O projeto experimental artístico e pedagógico culminou com a mostra “Território de Arte, Ação e Afetos” que inaugurou, em dezembro de 2008, o Módulo de Ação Comunitária, ocupando a varanda do MAC e os espaços do Maquinho com os relicários, mapas, depoimentos, vídeos, fotos e serigrafias que registram as vozes e vidas da comunidade do Morro do Palácio.

Comuniarte Palácio: Identidades na Diversidade
Roberta Condeixa
Artista-educadora participante do Projeto Comuniarte (2008)



O projeto experimental Comuniarte Palácio nasce em 2008 da vontade de trazer mais jovens para ressignificarem suas relações com o entorno, como agentes comunitários, críticos e cuidantes – das memórias, histórias, riquezas, criatividades e sutilezas da comunidade do Morro do Ingá, assim como já acontecia no Projeto Arte Ação Ambiental. Este texto visa trazer um olhar sobre a experiência e a participação de uma artista e educadora do DAE (Departamento de Arte Educação do MAC) neste projeto tão especial.

Os dois meses iniciais do projeto foram de reconhecimento de todos, através da apresentação das práticas artísticas dos museus, dos professores universitários e suas áreas de saberes, e dos jovens. Buscávamos não priorizar uma visão individual ou de uma determinada área à outra, mas vislumbrávamos pertencimentos nas práticas e conhecimentos. Através desta rede que se propunha tramar, os jovens tiveram encontros no museu, na comunidade, na universidade e em espaços dos mais variados, para estímulo de desenvolvimento de temas a serem criados que possuíssem relevância para a comunidade.

Após o período inicial de dois meses do projeto, grupos foram formados e criados pelos jovens da comunidade e da universidade através do processo vivido e pelas identificações afloradas. Em seguida, surgiram os seis projetos elaborados para a pesquisa, que seriam desenvolvidos no Comuniarte para um trabalho em campo ampliado, de agenciamento sociocultural na comunidade. Foram eles:


O Chapadão e suas diversidades – tema que buscava estudar o Chapadão (topo da comunidade do Palácio), onde além de um grande campo de futebol, há igrejas, bares, casas etc, é um local de encontro e lazer dos moradores;
O campo de futebol – coleta de histórias e memórias sobre o futebol e suas práticas;
Memória de brincadeiras – coleta de histórias e memórias sobre as brincadeiras na comunidade;
Casos e casas – as casas da comunidade, suas singularidades e memórias de seus moradores;
Fundo de saberes – pesquisa com jovens da comunidade, estudantes da Escola Estadual Aurelino Leal, sobre quais saberes gostariam e poderiam trocar em ambiente escolar;
Mapeando espaços afetivos – pesquisa sobre a cartografia da comunidade, cartografias pessoais, nomes dos becos, vielas e ruas dados pelos próprios moradores.


Minha interação permeava uma costura ao longo da realização de todos os projetos, trazendo as práticas artísticas contemporâneas e construindo, junto com os professores, uma linguagem para elaboração da pesquisa que possuísse relações com os grupos.

Realizamos exercícios inspirados nas práticas artísticas contemporâneas e seus referentes: trabalhos de fotografia, pensando o recorte temporal proporcionado pelo exercício desta linguagem, e como ela é um discurso, principalmente para os grupos O Chapadão e suas diversidades e Mapeando espaços afetivos que utilizaram a fotografia como meio. Fizemos vários trabalhos e exercícios de práticas artísticas da Land art (Movimento artístico surgido na década de 1960 onde o terreno natural, em vez de prover o ambiente para uma obra de arte, é ele próprio trabalhado) de modo a integrar-se à pesquisa, como no grupo Mapeando espaços afetivos e Casos e casas, no qual também vislumbramos no trabalho da artista Lygia Clark (Belo Horizonte, 1920 – Rio de Janeiro, 1988), uma poética para enriquecer como poderíamos pensar o abrigo, tema muito trabalhado pela artista na década de 1960, e como este se dá em uma relação comunitária. Além das práticas utilizadas desde o início do projeto como a Cápsula do Tempo (inspirada no trabalho do artista Andy Warhol) na coleta de objetos significantes, e nas apropriações, prática artística muito presente na Coleção João Sattamini – MAC e nos exercícios educativos do DAE por muitos anos.

Entender a arte também como processo de construção em parceria com outros saberes, pensar a arte como uma atitude, como possibilidade de construção de pesquisa, de organização de saberes, trouxe para muitos uma ansiedade por perceber a arte como uma apresentação final, uma técnica. Foi uma costura lenta e rica a construção dessa linguagem e o entendimento de que a arte é também a forma de ir dizendo e dizer, e está em muitos processos já realizados por outros saberes. Ela é parte de um processo de construção e não um produto final, aí reside seu potencial educativo, pois possibilita uma participação ativa crítica e criativa, tanto estimulada por Paulo Freire.

O projeto misturou grupos sociais diversos, este foi um dos seus grandes méritos e qualidades. As práticas artísticas e os saberes da academia foram uma forma interdisciplinar de tecer relações com as pesquisas de campo dos saberes comunitários. O caminho de uma construção coletiva entre pesquisa e possibilidades artísticas integradas foi um processo mais vagaroso onde o construir foi realmente uma prática de um conjunto que permeava a Academia, a Comunidade, as Instituições e os sujeitos, uma conjunção de idades, classes sociais, estilos de vida, personalidades e individualidades diversificados. Estas experiências são histórias que devem ser compartilhadas e revistas para refletir como “habitamos prosaicamente o cotidiano” (Paulo Freire) e como podemos fazer do cotidiano, processo artístico, sem sermos irreais dentro de um panorama político e social.
















CHAPADÃO
Ensaio fotográfico sobre o alto do Morro do Palácio
Professor Responsável: Paulo Carrano (Faculdade de Educação/Observatório Jovem - UFF)
Bolsistas do Comuniarte: Jocimar Santana Lyrio, Walace Santos de Paula e Emily Luizetto de Carvalho (curso de Jornalismo – UFF).

CASOS E CASAS
Professor Responsável: Luiz Guilherme Vergara (Coordenador e Prof. do curso de Produção Cultural - UFF)
Bolsistas do Comuniarte: Ilana Priscila Marques (curso de Produção Cultural - UFF), Chaiana Barbosa da Silva (estudante do ensino médio/ moradora do Morro do Palácio) e Viviane da Silva Ferreira (estudante do ensino médio/ moradora do Morro do Palácio).

MAPEANDO OS ESPAÇOS AFETIVOS
“Os jovens estão esquecendo a história...” (Fala proferida por um morador: 22/09/2008).
Professora Responsável: Marli Cigagna (Faculdade de Geografia - UFF)
Bolsistas do Comuniarte: Jonathan da Silva Marcelino (estudante de Geografia - UFF) e Carlos Henrique (estudante do EJA/ morador do Morro do Palácio)

PROJETO FUNDO DE SABERES
Inventário de saberes “não escolares” de jovens alunos.
Professor Responsável: Paulo Carrano (Faculdade de Educação/ Observatório Jovem - UFF)
Bolsistas do Comuniarte: Laiza Ferreira dos Santos (estudante do ensino médio/ moradora do Palácio), Danielle Anjos (curso de Pedagogia - UFF)
Apoio na produção da Vídeo-arte: Sarah Esteves (curso de Cinema - UFF/ bolsista de Iniciação Científica do Observatório Jovem - UFF)

O campo de Futebol – espaço de encontros, arte e resistência
Professor Responsável: Luiz Hubner
Bolsistas do Comuniarte: Leandro Nogueira, Lucas Felipe, Anderson Magalhães e Marcos Vinícius
                       
“BRINCADEIRAS NO PALÁCIO”
Professoras Responsáveis: Célia Ferreira e Sonia Barbosa Monnerat (Faculdade de Letras - UFF)
Bolsistas do Comuniarte: Leandro Ribeiro Virgínio (curso de Letras - UFF) Thayane Mikaelle Pereira de Morais (estudante do ensino médio/ moradora do Morro do Palácio), Camila de Paula Thompson (estudante do ensino médio/ Moradora do Morro do Palácio).