Relatos

Relato dos Multiplicadores e os Sonhos Concretos dos participantes do programa Arte Ação Ambiental e seus desdobramentos:

Douglas Araujo (Jovem participante do Projeto Arte Ação Ambiental - 1999/2010)

Eu tive a oportunidade de entrar no Museu em 1999 e aprender, conhecer coisas novas e fui incentivado a voltar a estudar. Hoje, o que eu tenho, eu posso agradecer ao projeto que mudou muito a minha vida. Então eu aprendi o que é arte e a trabalhar com arte, e agora ensino aos jovens da comunidade o que eu aprendi dentro do projeto. Hoje, eu também sou um professor de técnicas de reciclagem. Todos têm orgulho de mim no projeto e na comunidade. Eu faço parte da associação de moradores, sou vice-presidente. O projeto me incentivou muito a buscar essas questões, a trabalhar para melhorar a comunidade.


Jefferson Moreira Filho (Jovem participante do Projeto Arte Ação Ambiental - 1999/2010)

Eu e uns amigos viemos fazer uma visita aqui ao MAC, conhecemos o Guilherme Vergara e ele nos apresentou a arte. Eu participei da Oficina de Papel Reciclado, e depois da Oficina de Jogos Neoconcretos, na qual nós aprendemos a ter o olho de ver. Existe o olhar de enxergar e eu adquiri o olho de ver. Em 2000, eu já tinha um grupo de adolescentes para o qual eu ensinava como professor de papel por causa do projeto. Eu trabalhei em vários lugares ensinado reciclagem de papel. Trabalhei na Casa Amarela. Dava aula na Baixada Fluminense. Lá, eu capacitei um grupo que hoje em dia já está exportando papel. Dei aula em Suruí, Santo Aleixo, Santa Cruz da Serra, Piabetá, Piedade e por aí vai. Dei workshops em escolas, no museu, na praia, na Petrobrás, no Estaleiro Mauá e, hoje, eu continuo participando do Projeto Arte Ação Ambiental dando aula de reciclagem de papel no Módulo de Ação Comunitária do MAC de Niterói. Estou querendo fazer faculdade de artes plásticas, porque já trabalho com arte há 10 anos e a gente tem que correr atrás daquilo que a gente sabe fazer de melhor. E o que eu sei de fazer de melhor é trabalhar com arte. Eu gostaria de me tornar carnavalesco e ganhar dinheiro fazendo arte.


Maurício Souza - (Jovem participante do Projeto Arte Ação Ambiental - 1999/2010)

Cheguei ao projeto em 1999, por curiosidade, só por para ver. Comecei a participar do projeto a partir do papel reciclado. Comecei ali, gostei e aprendi a garimpar, separar papel. Depois o Douglas, me lembro até hoje, foi quem me apresentou à Oficina de Jogos Neoconcretos. E o Guilherme Vergara me incentivou a participar. Fiquei longe do projeto em 2003 e 2004, e voltei quando o prédio do Módulo ficou pronto. A primeira exposição do Arte Ação Ambiental foi a primeira prova de que nosso trabalho tinha valor, foi bem legal. Fizemos visita guiada, trouxemos turistas aqui para cima e gostaria que isso voltasse, resgatar aquelas pessoas lá de baixo que às vezes ficam com medo de subir para a comunidade, de vir aqui em cima, e mostrar o trabalho.


Elieton Queiroz Rocha / Telto (Jovem participante do Projeto Arte Ação Ambiental - 1999/2010)

Sou Elielton, mais conhecido como Telto, agora com 26 anos, mas quando entrei no projeto tinha apenas 15. Em 1999, final de 1998, nós já estávamos aqui no MAC fazendo algumas atividades e, a partir daí, deu-se esse Projeto Arte Ação Ambiental. Ao longo desses 10 anos a gente para e vê que muitas coisas aconteceram. Fazendo um balanço, a gente chega à conclusão de que foram 10 anos muito bem vividos. A gente vê que, ao chegarmos, éramos uns, saídos da pré-adolescência e não tínhamos a noção de quão importante era esse projeto para dentro da comunidade. Era um projeto pioneiro e inovador. Há tempos, nós sequer conhecíamos o museu, então aconteceu que o museu estava indo à comunidade, diferentemente de a comunidade ir até o museu... As oficinas, que antes tinham apenas questões educativas, começaram a ter uma visão também comercial. Cada oficina tinha um produto que podia ser comercializado e, a partir daí, também ter um retorno de verba. E então o projeto começa a descobrir os talentos que tinham de ser lapidados. Mas tinha aquela questão que nós estávamos crescendo, atingindo a maioridade, e o projeto por mais que nos fosse satisfatório, não dava o retorno financeiro que precisávamos. Existe todo o vislumbre e ostentação do tráfico, como é que fica isso? Os caras têm tudo e toda a galera que está fazendo o bem não tem. E foi nesse momento que o MAC, também a partir das suas parcerias, começou a entender que o projeto, por mais que fosse um projeto social, era também um projeto de pessoas, que tinham de correr atrás, ganhar a vida. Então foi legal porque, a partir do MAC, alguns colegas começaram a trabalhar em outros lugares em parceria com a galera tipo o SESI, o SEBRAE, o SENAI, fazendo as coisas em parceria com prefeitura e a galera trabalhando como orientador social. Umas e outras parcerias como design com outros artistas, que possibilitaram que algumas pessoas pudessem trabalhar. Mas tenho, particularmente, uma vivência muito boa de 1999, quando fui para a Bahia representar o MAC em um congresso internacional por uma nova museologia, chamado MINOM. Então, a gente olha para trás e vê que saiu da favela e de repente você está com o microfone na mão para poder falar para duas mil pessoas e começa a perceber a importância que as coisas vão tomando e que você pode fazer diferente, que você pode mudar você e seu entorno, as pessoas que moram na comunidade. O projeto mudou a vida da galera toda. A maioria dos empregos que a galera conseguiu foi através do MAC, a oficina de papel reciclado então!

Começou a trabalhar com fins comerciais, recebeu inúmeras encomendas, e cada trabalho com encomendas grandes, e a galera já estava conseguindo ganhar um dinheiro, fazendo uma coisa que gostava... Anos depois, uma chapa consegue vencer a eleição da associação de moradores do Morro do Palácio com Douglas, Jeferson, eu, Elton e mais outras pessoas. Então, a galera não só foi crescendo, mas também é muita coisa, né? Essa consciência política muda, o olhar muda. Tem a questão do sujeito participativo. A maioria das coisas que eu consegui foi através do projeto. Despertar a vontade para a área de educação, fazer formação de professores. Hoje eu trabalho como professor, então muita coisa mudou. Em 1997, também tive a oportunidade de ir a Minas Gerais representar o Arte Ação no Prêmio Cultura Viva. Também foi uma semana lá em Minas Gerais conhecendo, debatendo, discutindo questões de projetos sociais do Brasil inteiro, do país inteiro. E eu acho que o grande lance para mim, que mudou a minha vida, também foi um projeto chamado "Jovens do Rio, cidadão carioca", que foi um desdobramento de quando eu consegui, através do Museu, trabalhar no setor educativo. Eu fiquei trabalhando um ano como estagiário e nós desenvolvemos um projeto junto com o Médicos Solidários, que é um desdobramento do Médicos sem Fronteiras. Valeu à pena deixar de ir  à praia em um domingo de sol para estar no museu. Valeu à pena insistir naquilo que muitas das vezes (sic) parecia que não ia acontecer – o Maquinho, o Módulo de Ação Comunitária que em determinados momentos parecia impossível chegar. Se olharmos há dez anos para o Jefferson, seria difícil falarmos que ele seria um grande “papeleiro”, um grande professor de reciclagem de papel como é hoje; olhar para o Douglas com todo o jeitão e ver hoje um grande administrador; olhar para o Telto e ver um professor; olhar para o Maurício e ver um grande líder, para o Elton e ver um grande líder. Mas, enfim, a gente – e eu particularmente – acaba sempre citando o próprio Paulo Freire: "o educar para libertar". Sabemos o caminho que queremos traçar. Então eu acho que, de 1999 para cá, foi um bom preparo, mas ainda tem muita coisa. Eu acho que foi uma experiência muito boa, nos serviu muito. As pessoas que passaram por nós, cada um deixou um pouquinho. Foi ótimo! Mas é só o começo. Ainda tem muita coisa para a gente fazer.

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